Falhas evitáveis são responsáveis pela morte de cerca de 829 brasileiros todos os dias em hospitais públicos e privados do país. A informação consta no Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, elaborado pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) em parceria com a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Trata-se da segunda causa de morte mais comum no país.

Isso significa que três brasileiros morrem a cada cinco minutos por falhas que poderiam ser evitadas. Trata-se da segunda causa de morte mais comum no país, sendo superada apenas por problemas cardiovasculares, que, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, causam 950 mortes por dia.

Um total de 302.610 brasileiros morreram no ano passado em hospitais por causa de um “evento adverso”, isto é, erros de dosagem ou aplicação de medicamentos, uso incorreto de equipamentos, infecção hospitalar, entre outros motivos.

Para presidente do Instituto para Práticas Seguras no Uso de Medicamentos, Mário Borges, que participou como autor da versão anterior do mesmo estudo, grande parte das ocorrências se dá por conta de problemas na assistência aos pacientes. “Podem acontecer com o paciente desde erro de diagnóstico, queda do leito, ulcera por pressão, erros por medicamentos. Ao se somar tudo isso, percebemos um alto índice de mortalidade porque a assistência não foi realizada conforme deveria. E isso vem acontecendo no mundo todo, com um índice alto nos Estados Unidos, no Brasil, na América do Sul, na Europa. O Brasil está acompanhando a estatística de outros lugares”, explica.

Mário Borges lembra que o Ministério da Saúde possui um programa de segurança do paciente desde 2004. E a Portaria nº 529 e a resolução nº 36 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também determinam medidas a serem tomadas pelos estabelecimento de saúde para evitar essas ocorrências, como a instauração de um núcleo de segurança do paciente. “Existe uma espécie de comissão no hospital para prevenir esses eventos adversos, que podem prejudicar o usuário. Todos têm que ter um plano de segurança do paciente. E todos têm que implantar os seis protocolos já prontos do Ministério da Saúde: identificação do paciente, lavagem de mãos, uso seguro de medicamentos, ulcera por pressão, quedas e cirurgia segura”.

Já Tania Grillo, uma das coordenadoras da pesquisa, explicou que isso “não significa, necessariamente, que houve um erro, negligência ou baixa qualidade, mas trata-se de incidente que poderia ter sido evitado”.

Os “eventos adversos” também podem provocar sequelas no paciente. A pesquisa aponta que 1,4 milhão do total de 19,1 milhões de brasileiros internados em hospitais do país no ano passado foram vítimas de alguns desses “eventos”, principalmente bebês com menos de 28 dias de vida e idosos acima de 60 anos de idade.

As principais ocorrências são: lesão por pressão; infecção urinária associada ao uso de sonda vesical; infecção no local cirúrgico; fraturas ou lesões decorrentes de quedas ou traumatismos dentro do hospital; trombose venosa profunda ou embolia pulmonar; e, infecções relacionadas ao uso de cateter venoso central. Nem sempre, no entanto, esses problemas levam à morte.

Com o aumento do tempo de internação dos pacientes por causa de problemas no atendimento, os gastos também aumentam. De acordo com o anuário, os chamados “eventos adversos” custam R$ 10,9 bilhões por ano.

A Organização Mundial da Saúde reconhece que os “eventos adversos” são um problema de saúde pública. Em todo o mundo, ainda segundo o anuário, ocorrem por ano 421 milhões de internações e 42,6 milhões de “eventos adversos”.